domingo, 13 de novembro de 2011

Alzheimer - doença da alma... de quem?

Alzheimer... a doença da alma como é chamada.
Não entendo o porquê desse termo já que quem tem Alzheimer não tem mais lembrança... A lembrança ficou e dói a quem ainda lembra.
Dói e rasga a alma de quem convive ou conviveu com a pessoa...
Dói em quem sabe quem é, em quem foi ou é na vida dessa pessoa que está ali apenas de corpo presente e que não sabe que quem está ao seu lado é alguém muito próximo, que viveu com ele, que guarda muitas lembranças, algumas boas, outras nem tanto, mas não o esqueceu, porque sabe dos vínculos emocionais que envolvem uma vida toda...

Doença da alma adquire quem cuida... fazendo nos sentir inúteis por não saber como agir, incompetentes, ruins e até maus, por não entender aquele ser que muito nos deu e que agora não nos reconhece... A alma atingida, rasgada, amargurada, dilacerada pela dor de ver o corpo presente e a memória ausente de quem foi esteio, de quem foi exemplo, de quem foi ninho pra gente... e hoje é só um corpo com movimento, andando perdido pela vida, alguém que nos deixou, que nos deletou da memória, mas que não nos deixou esquecê-lo.

Dor na alma sentimos nós que estamos perto, que estamos vendo sua dor de não saber quem é, onde está, com quem está...
Vemos também muitos daqueles a quem a pessoa cuidou, amou e fez tudo o que estava ao seu alcance para que se tornassem gente, abandonando-as usando a desculpa de que não conseguem ver a pessoa assim, que quem está ali não é a mais a mesma de antes, não é aquela que conheceram....

Será que não pensamos em tudo o que fez?... Das boas coisas que plantou, das outras não tão boas, e de todas as tentativas que, frustradas ou não, foram pensando no melhor para nós..., e nessa hora temos o direito de não reconhecer??? Parece um sentimento e atitude desprezíveis... mas só quem tem alguém com essa doença sabe o quanto esse pensamento vem à mente... o quanto dá vontade de se afastar para doer menos....

Meu avô tem essa doença da alma.... Ele não lembra sempre quem sou eu, mas com toda a certeza eu sei muito bem QUEM ELE É, e se isso não for o suficiente tentarei lembrar que estou aqui e sou quem sou, uma pessoa com muitos defeitos e algumas virtudes... E graças a esse homem, que trouxe ao mundo um dos meus presentes mais valiosos, minha mãe e me ajudou com todo carrancismo e sabedoria dos mais antigos a moldar a mulher que sou hoje...

Portanto sou neta do Alzheimer e isso não me envergonha, pois antes do Alzheimer vem o homem a quem com orgulho chamo de Avô.
Ele tem Alzheimer... eu não!...

2 comentários:

  1. Olá, Lu. Eu sensibilizei-me ao ler esta publicação. Infelizmente, já tive e tenho pessoas na minha família que sofreram ou sofrem desta terrível doença.Apesar de todos os problemas do Mundo, a "dor de pensar" é uma coisa que invade a nossa mente até de forma «carinhosa».
    Por outro lado, ser um"bom servo das leis fatais", ou seja, cumprir o seu destino sem se opor minimamente a ele - cumpre-se o desejo do mais alto dos Reis, que é o de sentir o destino como coisa inevitável enquanto se cumpre. O assumir deste destino universal, é algum doloroso e profundo.
    cumprimentos,
    Sérgio

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  2. Obrigada Sérgio!! É triste, mas você expressou lindamente sobre cumprir o destino. Apesar da dor às vezes machucar, sei que Deus não nos dá uma cruz maior da que podemos carregar e que tudo tem um ensinamento de vida...
    Obrigada querido pelo comentário que tb me sensibilizou muito!! Beijos e seja sempre bem vindo!!

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